MEGAOPERAÇÃO RIO: A GUERRA QUE O ESTADO NÃO PODIA EVITAR
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| Foto: Wilton Junior/Estadão |
No dia 28 de Outubro o Rio acordou com o som que já virou trilha sonora de quem mora nas comunidades: helicóptero cortando o céu e tropa descendo o morro. Era mais uma operação policial, mas dessa vez, não uma qualquer foi a maior da história do estado, uma ofensiva pesada contra o crime que tomou conta dos complexos da Penha e do Alemão. Muita gente ouviu falar das 121 mortes. Mas pouca gente fala do motivo que levou o Estado a agir daquele jeito.
O que aconteceu ali não foi um erro isolado, nem uma decisão impensada. Foi o resultado de anos de um sistema sufocado por facções que transformaram comunidades inteiras em fortalezas. Quem vive lá sabe: o medo não é novo. Criança cresce ouvindo rajada de fuzil, trabalhador desce o morro rezando pra voltar vivo, e comerciante paga “taxa de segurança” pra bandido armado. O Estado foi cobrado e quando finalmente respondeu, veio o barulho, o impacto, e a manchete.
A operação não nasceu do nada. Era o Estado tentando retomar o que há muito tempo deixou de controlar. O governo precisava dar um basta na ousadia do tráfico, que já desafiava abertamente a polícia, fechava ruas, queimava ônibus e impunha toque de recolher como se fosse lei própria. A decisão foi dura, mas necessária. Quando o crime vira poder paralelo, o silêncio do Estado é o maior dos crimes.
Cláudio Castro assumiu a bronca. Defendeu a ação, enfrentou as críticas e sustentou que a polícia agiu dentro da lei. E, convenhamos, é fácil falar de “excessos” de longe, de trás de uma mesa. Difícil é ser o policial que sobe o morro sem saber se volta, enfrentando gente com armamento de guerra, metralhadora antiaérea e coração cheio de ódio. O confronto é desigual, mas o dever é o mesmo: proteger quem não tem culpa da guerra que o tráfico plantou.
A oposição correu pra pedir impeachment, dizendo que o governador autorizou uma “chacina”. Mas impeachment por combater o crime? Onde já se viu isso? Se o Estado se omite, reclamam. Se age, também reclamam. É a velha história: todo mundo quer segurança, mas poucos têm coragem de encarar o preço que ela cobra. E a verdade é que a operação, com toda sua dureza, teve um propósito claro enfrentar o poder de uma facção que não respeita lei, vida nem território.
Claro que cada morte precisa ser investigada. Ninguém celebra perda de vida, nem a do criminoso. Mas é preciso separar as coisas: o Estado age dentro de regras, o tráfico vive do caos. E quando o caos toma conta, a lei precisa mostrar força. Foi isso que aconteceu o braço do Estado, por vezes pesado, tentando equilibrar o que o crime desfez há décadas.
O Rio é terra bonita, mas ferida. E não dá pra curar ferida com pano úmido. Tem que limpar até doer, até sangrar, até sarar. A operação pode ter sido violenta, mas foi um recado: a favela não é território de facção. É território de gente, de cidadão, de trabalhador. Quem domina pela força precisa saber que um dia a força volta.
No fim das contas, a história vai julgar cada lado. Mas entre o crime que oprime e o Estado que reage, eu fico com o Estado mesmo quando ele precisa sujar as mãos pra garantir que o amanhã tenha um pouco de paz.

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